Se há cultura pelos cantos, é bom que seja valorizada. E se há meios de propagá-la, que seja tudo bem democrático, transparente e com objetivos bem definidos. Afinal de contas, é preciso que as expressões culturais não sejam apenas um complemento denominacional para promoção de eventos, mas que sejam, de fato, manifestações valorizadas, em suas diferentes produções.
Em uma terra tão cheia de riqueza cultural, como Itaporanga, parece um absurdo converter todas as amostras em um título que simplesmente dá nome a um evento. É que embora carregue o título tão sugestivo e atraente de Festival de Cultura, parece que não será dessa vez que os artistas e os produtores de cultura de Itaporanga terão a um espaço para mostrar suas produções e disseminá-la pelos recantos do Vale.
O intento seria dos mais nobres se não fosse a falta de planejamento para uma mais refinada apreciação da cultura. Porque na verdade, o aproveitamento deveria ser muito melhor se os atores culturais de Itaporanga estivessem envolvidos diretamente nesse processo, e se a programação fosse adaptada ao que de fato se tem a oferecer. Seria uma forma primorosa de abrir espaço para as escolas, igrejas, administração pública, associações, entre outros promotores de cultura.
Porque não basta querer tornar o evento válido, mas é preciso que o próprio episódio seja vivido em todas as suas etapas: do planejamento à execução. Isto é, não basta denominar-se Festival de Cultura, se este contempla apenas um ou outro segmento e não abre espaço para as diversidades culturais. Mais que isso, é extremamente importante que a apropriação do termo não sirva de fantasia para a promoção de terceiros.
Pois bem, o Festival de Cultura encerra uma programação esportiva. Logicamente não seria menos importante por causa disso, e poderia, inclusive, tomar dimensões ainda maiores e fazer-se mais extraordinário ainda. No entanto, o problema lacônico do Festival não se limita ao título, apenas, mas à essencialidade da coisa.
No fim das contas, a riqueza cultural do povo parece abreviar-se aos shows em praças públicas. E só. Tudo bem que esse tipo de evento contribui economicamente e gera até visibilidade, mas isso é mínimo diante do tanto que poderia se aproveitar. E isso tudo parece um atentado aos repentistas, atores, artesãos, cantores e grupos, e ao povo desta terra que, às vezes, embebidos de tanto artificialismo desconhecem seus valores.
E lá se vão as chances de mostrar o talento de nossa gente e de valorizar suas virtudes como forma de incentivar a produção contínua.
E não é simplesmente por considerarmos os valores culturais do nosso povo, que esquecemo-nos de destacar os valores financeiros altíssimos que se envolvem em um evento desse porte. Pois bem, lamentamos a falta de planejamento e o desperdício. Lamentamos a perca dessa oportunidade de chegar mais perto dos alunos, e lhes incentivar o gosto pela leitura, pela poesia, ou pelo teatro através de um Festival Cultural. E lamentamos também que, muitas vezes, fiquemos aquém disso tudo, enquanto se usam a causa nobre da cultura contraditoriamente.
Porque se a intenção é confraternizar-se, é importante que o ensejo não seja fantasiado como forma de enternecer a população ou de adquirir ares mais justificáveis e apreciados.