Duzentos e dezoito anos depois da morte em praça pública, num dia 21 de abril, será que Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, é lembrado?
O fato é que muitas cidades brasileiras costumam batizar vias e praças em homenagem aos inconfidentes, que eram os membros do movimento contra o domínio de Portugal, que pretendia declarar a república, em Minas Gerais, na época do Brasil Colônia. Mas até quem mora ou transita por esses lugares diariamente custa a lembrar quem foi, exatamente, essa figura histórica que divide opiniões até de historiadores.
Mas afinal, quem foi ele?
Considerado pela Coroa Portuguesa como o cabeça da conjuração Mineira, morto por enforcamento, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, tornou-se herói nacional e uma das figuras mais polêmicas da nossa história.
Foi comerciante, farmacêutico e dentista, profissão menos valorizada na época, que lhe rendeu o apelido de Tiradentes. Foi também minerador, tropeiro e militar, o que lhe aproximou de grupos que criticavam a exploração do Brasil (na época, uma colônia portuguesa) por Portugal.
Muito tem-se falado dele, mas sabe-se pouco de sua vida. O que conhecemos dele encontra-se nos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira (Publicado pela Imprensa Oficial, Belo Horizonte,1982) em alguns documentos. Portanto, para compreendermos quem foi Tiradentes e buscarmos algumas pistas de seu papel na Inconfidência Mineira, é necessário analisarmos os Autos como fonte e documentação históricas.
Vejamos, então, como Tiradentes surge nos Autos, através de seus próprios depoimentos e de seus companheiros de conjuração. Nas suas três primeiras inquirições ele tanto nega o movimento como sua participação. Perguntado sobre o levante responde: "... que tal não há, que tudo é uma quimera, que ele não é pessoa, que tenha figura, nem valimento, nem riqueza, para poder persuadir um povo tão grande a semelhança asneira". (Autos, v.9, p.254) Assim, ele negou até a quarta inquirição quando, repentinamente e sem uma explicação plausível, confessa ser o cabeça da conjuração, assumindo toda a responsabilidade pela tentativa de levante em Minas Gerais.
Entretanto, a sua participação surge em quase todos os interrogatórios dos demais envolvidos. A maioria revela um Tiradentes louco, falastrão, leviano, uma pessoa sem maior importância e caráter. O Coronel Alvarenga Peixoto afirma que o tenente-coronel Freire de Andrada, comandante da Tropa Paga de Minas Gerais, e também conspirador, insistia para que o ouvisse, pois: "fazia gosto que ouvisse ao dito Alferes Joaquim José, só por ver quanto inflamado na matéria, que chegava a chorar...". (Autos, v.5, p.116)
O próprio Padre Rolim fala de um outro Tiradentes, muito diferente do suposto "herói" de que nos dá notícia Alvarenga: "... porém como o mesmo alferes disse a ele ..., em outra ocasião, que a alguns dizia que entravam várias pessoas a que ele não tinha falado nem sabia que entrassem, por isso ficou na dúvida, e ainda hoje está nela, de que o dito Desembargador entrasse ...". (Autos, v.5, p.348).
Segundo Frei Desterro, Tiradentes recebeu sereno e convencido da gravidade de seus pecados a sentença de condenação. Após a leitura do Decreto Régio, sua reação foi de alegria pelos outros réus que receberam o perdão real, e pouco trabalho tiveram seus confessores em seu consolo, pois já estava "humilhado e contrito, exercitando-se em muitos atos das principais virtudes" (Autos, v.9, p.108).
Também Frei Raimundo Penaforte relata os momentos derradeiros de Tiradentes, descrevendo a cena com o carrasco e a preparação para a execução, traçando, também, seu perfil cristão: "Ligeiramente subiu os degraus; e sem levantar os olhos que sempre conservou pregados no crucifixo, sem estremecimento algum, deu lugar ao carrasco para preparar o que era necessário; e, por três vezes, pediu-lhe para abreviar a execução" (Autos. v.9, p.174). Assim, os frades franciscanos nos legaram um Tiradentes arrependido de seus pecados e culpa, uma imagem idealizada segundo os princípios cristãos.
A cena do enforcamento até hoje é retratada nos livros didáticos, e é costumeiramente e resumidamente, a lembrança que se tem desse personagem. Para alguns, a memória de Tiradentes precisa ser preservada. Para outros, sua relevância, na prática, resume-se ao fato de que, graças a ele, hoje é feriado nacional.
Fonte: sites de pesquisa